sexta-feira, 28 de maio de 2010

Au Revoir, Mamãe

Certa vez, meu sobrinho mais novo, na época com uns seis anos de idade resolvera... bem, melhor não contar o final agora.

- Gabriel! – gritou minha irmã da cozinha, enquanto preparava o jantar.
- Que é?
- Já chega de videogame, vai tomar banho para jantar.
- Peraí mãe, só falta uma fase.
- A fase de tomar banho. Vai já!
- Agora não mãe.
- Agora sim Gabriel.
- Só mais dez minutinhos, por favor.
- Gabriel Henrique. Agora!
- Ah mãe!

Ele foi até a cozinha batendo o pé, minha irmã já prevendo isso o aguardava com a colher de pau não mão.

- Ah o que? – disse ela.
- Também eu não posso fazer nada nessa casa. Nem jogar videogame.
- Ou você vai pro chuveiro agora ou eu vou quebrar o seu Playstation...na sua cabeça!

Confesso que minha irmã não é uma das pessoas mais pacíficas.

- Também eu vou fugir de casa! – saiu batendo o pé.
- Posso saber pra onde?
- Pra... pra... Paris! – gritou ele já no quarto.
- Pra Paris? – pergunta ela com deboche – Então me leva! Também quero ir.

Ela ria sozinha enquanto se perguntava o porquê do menino querer ir para Paris. Provavelmente era porque recentemente assistira ao desenho Ratatouille, que por sinal é meu desenho favorito e confesso que também me fizera ver a cidade luz com os olhos diferentes.

- Oh Mãe! Manhê! O que eu preciso pra fugir de casa?
- Dinheiro!

Alguns minutos depois apareceu ele com uma mochila nas costas de calça, blusa e cachicol.

- Você não acha que está calor demais pra sair assim?
- Na França tem neve. Faz muito frio!
- Ah ta.

Ela continuou no seu fogão, sem dar muita atenção. Ora olhava a panela, ora olhava o menino que pegava pão, biscoito, suco e preparava a sua lancheira.

- Tchau mãe! – deu um beijo nela. Deixa um beijo pro meu pai e diz pra ele que eu estou com muita pressa e não vai dar pra falar com ele.
- Mas Gabriel! Quem foge de casa não se despede.
- Não?
- Não. Deixa um bilhete e sai sem ninguém ver.
- Ah é?

Voltou para o quarto escreveu um bilhete e o deixou em cima da cama. Ao sair encontrou sua gata. Abaixou-se e disse:

- Vou sentir saudades.
- Miau! – respondeu ela.

Ao chegar à cozinha se deparou com minha irmã na porta.

- Mãe fecha os olhos.

Ela obedeceu e ele sai correndo pelo quintal. Ela entrou e fechou a porta. Meu cunhado, que estava a todo esse tempo no quarto, chegou à cozinha.

- Cadê o Gabriel?
- Foi pra Paris.
- Pra onde?
- É uma longa história.

Ambos sentaram-se e ela contou toda a história para ele, os dois riram muito.

- E você deixou?
- Você acha que ele vai muito longe? Daqui a pouco ele volta. Conheço minha cria.

Ela arrumou a mesa enquanto meu cunhado saiu para procurá-lo. De fato, ele não fora muito longe, estava na calçada sentado, abraçado à mala e dormindo. Meu cunhado pegou-o no colo e o levou para dentro rindo:

- Não sabia que a França era tão perto. Vou colocar ele na cama

Minha irmã os acompanhou, arrumou a cama para ele deitar e encontrou o bilhete que ele escrevera.

- “Papai e mamãe, acho que já estou bastante grande para morar com vocês, vou para França, sentirei saudades. Amo vocês, beijos. Gabriel”.

Minha irmã, por curiosidade, resolveu abrir a mala que ele fizera. Dentro havia uma escova de dente, um creme dental de morango, uma blusa, um pijama, um carrinho, dois reais em moedas - que foi tudo que conseguira pegar no cofrinho – e um vidrinho de Tylenol.
Quem disse que as crianças não sabem se cuidar sozinhas?

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