domingo, 29 de setembro de 2013

Passarinho Verde

Embora educada, Ana nunca fora considerada uma grande simpatia, não que fosse antipática, mas não se interessava por grandes integrações sociais, nunca participava das festas e nem dos happy hours e, por isso, era sempre o assunto desses eventos. Chegava todos os dias em seu trabalho e por educação dava um breve “Bom dia” aos seus companheiros de trabalho e começava a trabalhar. Sempre muito técnica, se envolvia com seus projetos analíticos e não conversava com ninguém, somente se fosse extremamente necessário. Seus companheiros de trabalho achavam-na estranha e em conversas paralelas sempre chegavam à conclusão de que Ana não era normal.


Certo dia, ao chegar ao escritório, Ana cumprimentou seus companheiros de trabalho com o costumeiro “Bom dia” e deu um rápido sorriso. Seus companheiros se entreolhavam e acharam estranha sua atitude e entre um cochicho e outro, Ana ouvia em meio ao barulho do departamento.

— O que aconteceu com ela? — indagou o curioso

— Não sei, mas ela está diferente, parece até mais bonita — retrucou o cafajeste

— Deve ter visto um passarinho verde — arrematou a indiscreta falando mais alto que todos.

Todos riram e Ana ouviu, corou e nada disse.

No dia seguinte, Ana sorriu ao dizer bom dia e ainda cantarolou durante o expediente.

— Esse tal passarinho verde deve ser um gato! — gritou a indiscreta

Todos riram e Ana ouviu, corou e nada disse.

No outro dia, Ana sorriu ao dizer bom dia, cantarolou durante o expediente e ainda penetrou em algumas conversas paralelas.

— Esse tal passarinho deve um espetáculo — gritou mais uma vez a indiscreta

E os dias se passaram, Ana permanecia diferente e os comentários continuavam, até que um dia, Ana chegou ao escritório mais radiante do que o nunca. Sorriu ao dizer bom dia, cantarolou durante o expediente, penetrou em algumas conversas paralelas e ainda chamou seus companheiros para tomarem uma cerveja.  

A corajosa, que não se aguentava ,falou dessa vez mais alto do que nunca:

— Mas esse passarinho verde deve ser, alto, loiro, bonito e rico!

Antes de todos começarem a rir, Ana ouviu, corou e disse:

— Melhor! Descobri que o tal do passarinho verde nada mais é que um urubu preto, feio e sem a menor graça.

Todos ouviram, coraram e nada disseram.


E depois disso, Ana nunca mais ouviu nenhum comentário aviário.

Vamos?

Vamos?

Deixa estar
Deixa a vida levar
Deixa e vamos!

No final..
Quando a gente chegar a algum lugar...

Ou

Quando a gente não chegar a lugar algum
A gente vê o que faz


Mas fomos...