terça-feira, 18 de maio de 2010

O Tubo da Pasta de Dente

Carlos já está dormindo quando Clarisse entra no banheiro, penteia o cabelo e olha os indícios de futuras rugas em seu rosto. Coloca as pernas sobre a privada, espreme as coxas até encontrar as malditas celulites, fica deprimida. Vira-se de costa para o espelho, analisa sua bunda e percebe que ela não resistiu à lei da gravidade. Pega sua escova de dente:

- Carlos! – grita
- O que foi? – grita Carlos enquanto pula da cama e tenta colocar a calça jeans ao mesmo tempo.
- Quantas vezes eu já te pedi, aliás, já te implorei pra não fazer mais isso?
- Calma Clarisse, eu posso explicar. Essa marca de batom na minha camisa foi de uma mulher que se esbarrou em mim no metrô.
- Não fuja do assunto Carlos Henrique Ribeiro. E já não te disse que não é para apertar o meio da pasta de dente e sim a ponta?
- Ah é isso? – responde ele voltando para a cama.
- Volta aqui Carlos, eu ainda não terminei – diz ela seguindo ele com o tubo da pasta de dente na mão.
- Hum – resmunga ele.
- É assim que se faz – ela demonstra enquanto ele assiste a cena com um olho aberto e o outro fechado.
- Quantas vezes eu te disse isso hein?
- A mesma quantidade de vezes que eu já te pedi para não pendurar calcinhas no registro do chuveiro – vira-se de bruços e coloca o travesseiro em cima da cabeça.
- Ahhh – arranca o travesseiro dele e joga no chão. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Ah não? É engraçado como as coisas que você não gosta são muito mais irritantes do que as coisas que eu não gosto.
- Parece que você faz tudo para me irritar, Carlos. Por que você coloca a toalha molhada em cima da cama?
- Eu coloco no M-E-U L-A-D-O D-A C-A-M-A! – grita pausadamente como se estivesse falando com uma retardada surda. Por que você corta a unha e deixa seus restos de unha no sofá?
- Elas caem no cantinho que não dá pra tirar. Por que você não levanta a sua bunda do sofá aos domingo à tarde para tirar as latinhas de cerveja vazias da mesinha de centro?
- Porque você não tem paciência de me deixar terminar de assistir ao jogo! Por que você me acorda aos sábados de manhã ao som de Jorge Aragão?
- Porque eu tenho que acordar cedo pra fazer faxina porque o seu salário de merda não dá nem pra termos nem uma diarista!

Silêncio fúnebre.

- Você devia ter casado com um cara mais rico!
- Desculpe amor, não foi o que eu quis dizer.
- Mas foi o que você disse.

Carlos pega seu travesseiro e se ajeita no sofá da sala. Olha no vão entre as almofadas e encontra pedaços de unhas. Prefere dormir no tapete. Clarisse chega com um cobertor:

- Você esqueceu da coberta – Diz enquanto cobre ele. Essa sala faz tanto frio.

Ela deita por atrás dele e o abraça. Ele se vira e ela o beija. Eles se beijam ardentemente e de repente:

- Vadia! – grita ele e dá um tapa na cara dela, o barulho ecoa pela sala.
- Cachorro! – Grita enquanto revida o tapa!

Aos tapas, mordidas e arranhões, eles transam selvagemente. Aliviam todo o stress em forma de violência sexual. Aquela agressividade que a moral não os permitia trocar em uma discussão, na cama os permite, até que juntos chegam ao orgasmo. O som da respiração pára, o atrito entre os corpos pára, o silêncio paira. Ela repousa a cabeça no peito dele e diz:

- Você me ama?
- Amo.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Faria qualquer coisa por mim?
- Claro que faria.
- Não espreme o tubo da pasta de dente no meio não.

3 comentários:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkk
    Ahh que lindo, achei fofo e ainda por cima dei risada.
    Muito bom. Parabéns, amor!

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  2. Muito bom, está melhor em casa escrevendo do que vindo nas aulas chatas da facu, que não estão ensinando quase nada...hihihi

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  3. Tenho que confessar que as vezes a mulherada exagera!!
    Amei!!

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