Como qualquer — ou quase
qualquer — típica paulistana, Julia
torrava ao sol do meio-dia enquanto seu marido, João, a alguns metros, revezava
seus olhares entre o isopor de cervejas geladas e o desfile de bundas seminuas.
Carlinhos, por sua vez, corria do pai para a mãe e da mãe para o pai em busca
de atenção.
Sem sucesso, resolveu entediar-se na solitária construção
de um belo — mas nem tanto — castelo de areia.
— Balão! Balãozinho! Balão! — grita um senhor de meia idade
andando preguiçosamente pela praia vendendo coloridos balões de gás.
— Papai, eu quero um balão!
— Pede para sua mãe! — responde o pai sem parar de olhar a
bunda grande e cheia de celulites da morena que passava. Celulites essas que,
obviamente, passaram desapercebidas aos olhos de João.
Carlinhos corre e se abaixa para falar com sua mãe:
— Mamãe, eu quero um balão!
— Pede para o seu pai!
Irritado, Carlinhos volta para o seu pai:
— A mamãe disse para você pegar o dinheiro da carteira de
couro dela e comprar um balão!
Sem indagações, João grita para o homem dos balões:
— Amigão! Mê vê um balão aqui pro meu menino!
— É pra já! Pode escolher meu jovem!
Carlinhos olha para o emaranhado de balões muito além de sua
cabeça e aponta:
— Aquele!
— Esse azul?
— Não! Do lado!
— O verde!
— Não! — irritado — Aquele!
— O... cor de rosa? — indaga timidamente o homem dos balões.
— Sim! — sorri.
— Cor de rosa, meu filho? Cor de rosa é cor de menina! Me vê o azul!
— Azul eu não quero!
— E o verde? Olha como é bonito! Me vê o verde então,
amigão!
Carlinhos desiste da discussão senta na areia e cruza os
braços. Seu pai pega o balão verde e dá para o menino, que o pega sem o menor
interesse. Minutos depois o balão sai voando pelo ar, mas Carlinhos não se
importa e volta para seu entediante castelinho de areia.
O dia na praia acabou.
A noite durante o jantar, os três comiam silenciosamente. Julia
jazia sentada como se estivesse empalhada devido a insolação conquistada com
seu dia de sol e João assistia o futebol.
— Posso sair da mesa? — indagou o menino
— Termina de comer primeiro! – retrucou o pai
— Mas eu já terminei de comer!
— E essa salada no seu prato? Não vai comer não?
— É beterraba!
— E daí?
— E daí que beterraba é cor de rosa e cor de rosa é cor de menina!
E saiu da mesa.
Ótimo! Muito boa a narrativa, dá muita curiosidade chegar ao final.
ResponderExcluirboa constatação sobre as celulites!! Rs
abs
Muito Obrigado!!!!
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