sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço?

A impenetrabilidade diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. O dono dessa teoria, certamente, não conheceu a hora do rush em São Paulo e para desmentir essa teoria basta passar um dia na vida de autêntico paulistano.

O galo mal cantou e já começa a tortura. Lá vem ela, a lotação – que não pudera ter nome mais apropriado – que de tão cheia, só é possível adentrá-la após passar vaselina pelo corpo.

Espreme, puxa, empurra, soca bolsa daqui, bolsa dali, pisão no pé, cotovelada na costela. Começou a luta livre. O inferno é menos quente, menos violento e mais vazio. É tanta gente por metro quadrado que todo mundo passa a ser um único ser. Não existe suruba no mundo que te invada tanto quanto o interior de uma lotação.

São seis horas da manhã e a lógica da higiene nos faz imaginar que todos no recinto tenham tomado banho pelo menos na noite anterior. Pois bem, percebemos que estamos errados cada vez que o infeliz ao nosso lado levanta os braços. Eu sei que devemos ser tolerantes, mas alguém explica alguém feder às seis da manhã?

E o trânsito? São tantos os motivos que o causa que chego a pensar que se espirrarem no Iraque, São Paulo vai parar. É impressionante o poder de uma gota d’água, choveu na zona leste, São Paulo pára. Garoou no Acre, São Paulo pára. Um cachorro mijou na Marginal Tietê, pode ter certeza que São Paulo vai parar.

Passada a primeira parte do inferno vem a segunda e pior parte: o metrô. Nessa hora toda a nossa dignidade vai por água abaixo. As pessoas se encaixam como num Kama Sutra. Agente encoxa os outros, os outros encoxam agente. Uma putaria só. E o metrô se rastejando. Se a preguiça me permitisse, eu provaria por A+B que ir trabalhar a pé era mais rápido.

Sem ter melhor definição, descrevo a estação Sé como um orgasmo. O trem quem vem da zona leste é um pinto gigante e nós somos todos espermatozoides. O óvulo é o vagão do trem com sentido ao Jabaquara. Todo mundo sai correndo, se pisoteia, se esfolam desesperadamente, como em busca de uma fecundação.

E todo esse martírio serve para que? Para trabalhar durante dez horas!

Mas uma coisa é certa, se estamos na terra para pagar por nossos pecados, podem ter certeza. O céu deve estar cheio de paulistanos.

2 comentários:

  1. hahahahahah
    Mew, quando li o título pensei q viria uma história de amor. Rs Me emocionei com a fecundação...ai ai Leo, q orgulho ser sua amiga! Vc está cada vez melhor.
    AMO-TE

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  2. Bom, só pra constar, sigo por que ADORO; Amei mais um dos seus textos. Parabens.! Bju Leo.

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